Estudo do Ipespe – Instituto de Pesquisa Sociais, Políticas e Econômicas mostra que nos últimos dois anos, entre 2011 e o início de 2013, 57% dos entrevistados deixaram o carro em casa, em São Paulo, e optaram por outros meios de deslocamentos.
A pesquisa foi realizada para o guia “Como Viver em São Paulo sem Carro?” , uma ideia do empresário Alexandre Frankel e escrito pelo jornalista Leão Serva.
De acordo com o levantamento, deste total que desistiu do carro, 19% deixaram totalmente o meio de transporte individual e 38% diminuíram o uso, restringindo apenas para passeios em finais de semana ou rotas não cotidianas.
Ainda sobre os que deixaram o carro, a pesquisa mostra que 78% migraram para os deslocamentos a pé, 70% foram para o ônibus e 61% para o metrô.
Com a implantação de faixas de ônibus na Capital Paulista, que deixaram as viagens entre 12% e 108% mais rápidas, a expectativa é que mais pessoas prefiram o transporte coletivo.
A pesquisa mostra ainda que o trânsito e o excesso de veículos causam infelicidade em 58% dos entrevistados.
O especialista em transportes Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP – Universidade de São Paulo- diz que com faixas e corredores exclusivos os ônibus conseguem fazer mais viagens, mas que com a migração de passageiros para este meio de transporte seriam necessários mais três mil ônibus e micro-ônibus, além dos cerca de 15 mil veículos de transporte urbano da Capital Paulista.
Ele também diz que a frota máxima deve operar todo o dia e não apenas nos horários de pico.
Horácio Figueira defendeu que o ideal para São Paulo hoje são cerca de 400 quilômetros de corredores para ônibus, além das faixas. Os corredores apresentam de fato exclusividade para o transporte público, aumento mais significativo da velocidade e conforto maior para o passageiro, com estações acessíveis e ônibus de maior porte e de categoria superior.
Ele fala sobre o impacto positivo dos corredores. Segundo os cálculos do engenheiro, a cada quilômetro de corredor, mais 10 mil passageiros são atraídos por dia em média ao transporte público.
Levando em conta que os carros em São Paulo levam em média duas pessoas, podem ser retirados cinco mil veículos particulares de circulação.
Além do estresse, da perda de tempo nos congestionamentos e tensão em relação a acidentes e assaltos, o aspecto econômico foi fundamental para que mais pessoas cogitem a deixar o carro em casa.
Uma simulação feita pelo economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que uma pessoa que anda de ônibus em São Paulo pode economizar R$ 15 mil 840 por ano.
O economista tomou como base o cotidiano de uma pessoa que anda num carro no valor de cerca de R$ 30 mil aproximadamente 16 quilômetros por dia na cidade, que significa a média dos deslocamentos em São Paulo. Ele levou em conta os gastos com combustível, IPVA, seguro, manutenção, estacionamento, depreciação do valor do veículo e custo de oportunidade, que é o quanto o valor do carro poderia estar rendendo numa aplicação financeira.
Por ano, essa pessoa gasta R$ 18 mil com o carro. Se andasse os mesmos 16 quilômetros por dia de táxi, gastaria R$ 17 mil 805 e 56 centavos e se percorresse de ônibus, seu custo anual seria muito menor: R$ 2 mil 160.
O estudo é mais uma prova de que além de contribuir para a qualidade de vida e para os cofres públicos, o transporte público pode ajudar e muito nas finanças pessoais, mesmo com as atuais tarifas que poderiam ter altas com menores índices se os ônibus ganhassem em produtividade, com mais espaços verdadeiramente prioritários.
Outro estudo mostra que além de ser bom para o bolso e para a mobilidade urbana, o transporte público ajuda na saúde.
E os ganhos vão muito mais que a redução da poluição.
O uso do transporte público pode ajudar no combate a problemas como estresse, sedentarismo e obesidade.
O coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente, da OMS – Organização Mundial da Saúde, Carlos Dora, realizou uma compilação de 300 estudos mundiais sobre a relação entre mobilidade urbana, prevenção de doenças e qualidade de vida.
Segundo ele, andar de transporte público pode evitar doenças cardiovasculares, pulmonares e reduz acidentes de trânsito, fatores que estão entre as principais causas de morte no País.
E o primeiro impacto disso é na diminuição do sedentarismo.
Carlos Dora diz que os usuários de ônibus, trem ou metrô (ou os três) caminham de 8 minutos a 25 minutos por dia, o que é muito próximo do mínimo recomendado pela OMS para a qualidade de vida melhore.
Andar de bicicleta ou caminhar 30 minutos, ao menos três vezes por semana, reduz em 30% o risco de problemas cardiovasculares, além de evitar diversos tipos de câncer.
A falta de atividade física, nem que seja a caminhada para chegar ao ponto de ônibus, mata ao menos 3 milhões de pessoas por ano, com doenças como diabetes e hipertensão arterial.
Já os acidentes de trânsito matam 1,2 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. E o excesso de veículos, além de aumentar possibilidade de acidentes, eleva significativamente os níveis de poluição, que são responsáveis por mais 1,2 milhão de mortes por ano.
Ainda de acordo com a OMS, 90% dos poluentes das áreas urbanas são provenientes do excesso de carros nas ruas.
Ao substituir diversos carros e poder incorporar tecnologias não poluentes, como os modelos de ônibus híbridos e trólebus, o transporte público pode ajudar a ampliar não só o tempo, mas a qualidade de vida das pessoas.
FOTO:Ônibus em São Paulo. Cada vez mais pessoas estão deixando o carro em casa, de acordo com pesquisa. Estudos mostram que transporte público traz benefícios à mobilidade urbana, à economia geral, às finanças pessoais e também à saúde. Foto: Adamo Bazani