No início da década de 1950, mais precisamente no ano de 1951, era inaugurada pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra a BR-2, ou Via Dutra, como veio a ficar conhecido o trecho da atual BR-116 que interliga a Marginal Tietê, na cidade de São Paulo, à Avenida Brasil na cidade do Rio de Janeiro.
Em seus 402 quilômetros de extensão, a Via Dutra coleciona histórias. Como a do acidente que culminou na morte do presidente Juscelino Kubitschek, em 1976, no trecho que fazia parte da cidade de Rezende (RJ).
Nos ônibus rodoviários, a disputa pelo eixo Rio – São Paulo resultou muitas histórias interessantes. Entre elas, a concorrência nos anos 1950 entre Viação Cometa, Pássaro Marron e Expresso Brasileiro.
Em uma época em que os ônibus rodoviários produzidos pela indústria nacional ainda eram basicamente uma adaptação da carroceria para passageiros sobre um chassi de caminhão, as empresas operadoras do eixo Rio – São Paulo viram na importação uma oportunidade de buscar certa diferenciação no mercado.
Importar era uma tarefa bastante custosa e burocrática. Para incentivar a indústria nacional, o governo brasileiro impunha diversas barreiras sobre a importação de forma a privilegiar o produto fabricado em território nacional.
Apesar das dificuldades, Affonso José Teixeira, dono da Pássaro Marron, conseguira uma licença para importação de 50 veículos dos Estados Unidos, sendo 30 rodoviários modelo GM PD-4104 e 20 urbanos modelo ACF Brill.
Conforme conta Rúbio Gômara, que esteve envolvido na negociação e também é o autor do livro “Sonhos sobre Rodas”, editado pela ABRATI, na época a Pássaro Marron, responsável pelo pedido, constatou que seria um compromisso arriscado assumir uma importação de valores tão elevados. No entanto, para não perder a licença de importação, Affonso José Teixeira teria procurado seus dois principais concorrentes para oferecer os veículos: a Expresso Brasileiro e a Viação Cometa.
No aguardo de outra licença que sequer chegou a ser concedida, a Expresso Brasileiro não teve interesse na oferta. Ficou então com o italiano Tito Czernichovscki Mascioli, fundador da Viação Cometa, a oportunidade de assumir os trinta ônibus rodoviários que chegariam ao Brasil. E assim aconteceu.
Foi na Viação Cometa que se iniciou uma nova fase no transporte rodoviário brasileiro, em que ônibus verdadeiramente rodoviários, fabricados com este propósito, eram disponibilizados aos passageiros da linha Rio – São Paulo.
Os ônibus fabricados pela General Motors modelo PD-4104, lançados em 1953, traziam o que havia de mais moderno na época: motor traseiro Detroit Diesel com dois tempos e 211 cavalos de potência, carroceria em alumínio, ar condicionado, suspensão pneumática, poltronas com janelas individuais e vidros Ray-Ban, que protegiam os olhos contra a incidência dos raios solares.
No Brasil, o ônibus norte-americano cuja designação era uma sigla com letras e números ganhou um apelido indígena: “morubixaba“, que significa “cacique”, “chefe da tribo”.
A partir de então, a Viação Cometa passou a adotar o modelo como referencial nos seus próximos ônibus. Devido ao fechamento do mercado brasileiro às importações, vivido nos anos posteriores à chegada dos Morubixaba, a Cometa viu na parceria com a Ciferal uma oportunidade de continuar operando com ônibus similares ao importado. Entre 1961 e 1982 houve uma grande parceria entre a Cometa e a Ciferal. A partir de 1983, com o quebra desta encarroçadora, que entrara em concordata, a Cometa passou a fabricar seus próprios ônibus na recém criada CMA – Companhia Manufatureira Auxiliar, que esteve em operação até o ano de 2002.
Os Morubixaba estiveram em operação na Viação Cometa até 1973. Devido à dificuldade para a importação de peças dos Estados Unidos para manutenção dos motores Detroit Diesel/General Motors, muitos sofreram adaptações e incorporaram motor e caixa de câmbio Scania, cuja produção era nacional.
Nesta edição da seção arquivo aqui no Blog do Ônibus Brasil apresentamos a publicidade do ano de 1954 em que a Viação Cometa apresentava seu novo ônibus importado. O destaque ficava por conta do sistema de ar condicionado e do “novo e revolucionário sistema de suspensão a ar comprimido”.