A chegada do novo presidente faz o país voltar a atrair multinacionais brasileiras
A mudança de rumo na política argentina com a chegada do presidente MaurIcio Macri, de perfil mais liberal que sua antecessora, Cristina Kirchner, vem gerando uma onda de otimismo no ambiente de negócios do país. Com uma nova postura avessa às barreiras protecionistas e mais amigável ao capital estrangeiro, a Argentina voltou a atrair multinacionais brasileiras interessadas em investir por lá, justamente quando o Brasil está imerso em uma das piores recessões da história.
A brasileira JBS, a maior processadora de carne do mundo, é uma das empresas interessadas em voltar a expandir seus negócios por ali. Prejudicada pelas restrições de exportação de carnes bovina impostas pelo Governo anterior, a companhia fechou quatro das cinco unidades de abate no país há mais de três anos e teve que voltar-se apenas para o mercado local argentino. A empresa opera, atualmente, apenas com uma fábrica em Rosário, onde trabalham 1.500 funcionários. Agora já planeja retomar, ainda neste ano, as atividades nas unidades paralisadas para voltar a ter uma plataforma de exportação na Argentina.
Com duas fábricas de ônibus no país vizinho, a brasileira Marcopolo também já sentiu mudanças positivas com as novas políticas adotadas por Macri. "Em dez dias, o novo Governo gerou uma revolução de credibilidade na Argentina, destravou barreiras que agora beneficiam as exportações", explica Ruben Bisi, diretor de negócios internacionais. A empresa que tinha a meta de exportar 100 unidades de ônibus para o mercado argentino neste ano já viu os pedidos aumentarem para 150. "Até o momento foi muito, pelo menos, em termos de exportação. Talvez nossas fábricas locais na Argentina sofram um pouco mais de concorrência, com a abertura das importações, mas a mudança foi positiva para os negócios", completa Bisi.
O fim do controle cambial, a retirada das travas comerciais, como a que dificultava a entrada de importados no país, e a expectativa de uma retomada do crescimento fizeram também despertar o interesse de empresas que ainda não têm presença no território argentino. "Muitas empresas brasileiras sondaram o mercado nos últimas dias, parte querendo expandir os negócios, mas outras querendo estrear na Argentina, de olho na área de infraestrutura e energia. Acho, no entanto, que os empresários irão aguardar os primeiros seis meses do Governo Macri para tomar uma decisão definitiva, e ver os reais efeitos da reacomodação da economia", explica Mariano Lamothe, da consultoria argentina Abeceb.
Nos últimos anos, o contexto político-econômico da Argentina diminuiu o ânimo dos brasileiros para investir na terra dos hermanos. Desde 2012, os investimentos diretos do Brasil para a economia argentina vem caindo a cada ano. Segundo dados do Banco Central (BC), foram 109 milhões de dólares no ano passado, bem abaixo dos 618 milhões de dólares registrados em 2012.
Esse movimento também se refletiu nas empresas brasileiras que encontraram dificuldades de importar e exportar e acabaram saindo do país. Após sucessivos prejuízos, a empresa de louças e metais sanitários Deca foi uma das que fechou as portas da unidade que tinha na província de Buenos Aires, em 2013. Cerca de 20 a 30 empresas brasileiras seguiram o mesmo caminho e deixaram a Argentina nos últimos quatro anos, segundo o presidente do Conselho da Câmara de Comércio Argentino, Alberto Alzueta.
"Os problemas das multinacionais se acentuaram no Governo de Cristina Kirchner, ela errou na política fiscal, monetária e no protecionismo. As empresas não conseguiam atingir os resultados programados", explica Azueta. Já as que permaneceram tiveram que fazer alguns ajustes para sobreviver. Hoje, cerca de 250 empresas brasileiras têm filiais argentinas.
Para Azuelta, o caso da Vale foi marcante para o período de baixas de companhias brasileiras e investimentos. Em 2013, a mineradora suspendeu um projeto para explorar potássio na Província de Mendoza, no oeste do país, onde seriam investidos cerca de 6 de bilhões de dólares. A suspensão do contrato também afetou algumas empreiteiras brasileiras contratadas para diferentes partes do empreendimento. "Já Maurício Macri conseguiu em apenas um mês reverter as expectativa no país. Os problemas existem, mas a perspectiva mudou, assim como o humor no ambiente de negócios", explica.
Proposta de livre comércio de automóveis
A maior abertura do mercado vizinho é um sinal de dias melhores para as exportações do setor automotivo brasileiro que vem amargando uma forte crise, com queda nas vendas, excesso de capacidade ociosa e demissão de funcionários. A ascensão de Macri deixou as montadoras brasileiras mais otimistas quanto à discussão do acordo automotivo bilateral, que expira em junho. O setor automotivo representa mais da metade do comércio entre Brasil e Argentina.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirmou em entrevista coletiva, na semana passada, que a associação está buscando na renegociação do acordo automotivo com a Argentina o livre comércio de automóveis e autopeças. "Com a transparência do câmbio flutuante nos dois países, nossa proposta é de livre comércio", disse Moan.
Atualmente, o sistema vigente de comércio bilateral é o "flex", que estabelece que o Brasil pode exportar sem tributação até 50% a mais do que importa dos argentinos. Ou seja, pelo tratado, as montadoras podem vender, com isenção de impostos, no máximo 1,5 dólar para cada 1 dólar importado de montadoras do país vizinho.
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