quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Volvo Bus quer transporte coletivo eletrificado


Presidente da companhia conta resultados da experiência na Suécia


Volvo colhe em Gotemburgo, na Suécia, os primeiros resultados de um projeto que pretende mudar a maneira como as pessoas se deslocam de ônibus nos centros urbanos. Desde o fim de 2015 a cidade conta com a Linha 55 de ônibus eletrificados que passa pelo centro, liga algumas universidades e leva 100 mil passageiros por mês. São 10 veículos, todos da marca sueca: três totalmente elétricos e sete híbridos diesel-elétricos, que só usam o motor a combustão em velocidades superiores a 30 km/h. 

“O foco está em oferecer três grandes vantagens: eficiência energética, redução e ruído e uma solução para que as cidades sejam mais sustentáveis”, contou Hakan Agnevall, presidente mundial da Volvo Bus, enquanto levava a reportagem para um passeio de ônibus por Gotemburgo em uma cena difícil de adaptar para o contexto brasileiro. Por aqui é bastante improvável que o alto executivo topa dar uma entrevista enquanto circula no transporte público. Segundo ele, a companhia tem a eletrificação dos chassis como investimento estratégico há pelo menos 10 anos. No raciocínio do executivo, este é um dos caminhos essenciais para garantir a qualidade de vida nas grandes cidades que, no cálculo dele, devem abrigar dois terços da população global em 2060 (hoje 50% das pessoas vivem nos centros urbanos). 

“Já fizemos testes no Brasil com etanol e em outras regiões com gás natural. A verdade é que nenhuma destas opções traz ganho importante de eficiência e ainda não há melhora no conforto para o motorista”, avalia Agnevall, assegurando que a eletrificação é o melhor caminho para os ônibus urbanos. A grande ousadia da iniciativa em Gotemburgo não está só em oferecer veículos com baixa ou nenhuma emissão, mas em garantir solução completa, incluindo a estrutura de recarga. 

COMO FUNCIONA 

Das 15 paradas da Linha 55, duas contam com sistema de recarregamento, uma delas fica, inclusive, em espaço fechado, o que garante proteção para o gelado inverno sueco. “Sem emissões ou ruído, o transporte pode ser planejado de um novo jeito na cidade, com paradas dentro de shoppings, bibliotecas e até de hospitais. Isso muda completamente a forma de se pensar as metrópoles e garante mais conforto aos passageiros, que não precisam se expor ao frio ou à chuva.” 

Na estação, o condutor para o ônibus e, depois de acionar um botão no painel, o sistema de reabastecimento se conecta ao teto do veículo, onde fica a bateria. Em quatro a seis minutos a bateria tem 70% de seu potencial energético preenchido. Em uma destas paradas, o motorista Dzavid Murati desceu do veículo que conduzia e contou que a tecnologia tornou seu trabalho melhor, menos cansativo. Ele lembra que, quando o projeto começou, uma das preocupações era o silêncio dos ônibus, que poderiam oferecer risco aos transeuntes distraídos. “Achávamos que as pessoas não iriam escutar, mas esse problema não existiu. Os pedestres percebem o ônibus chegando”, conta. 

Com a possibilidade de recarga ao longo da operação, a Volvo conseguiu reduzir o tamanho das baterias. “Menos peso, mais passageiros”, resume Agnevall. Depois de reabastecido, o chassi volta a rodar, aproveitando também a energia gerada na frenagem. Só durante a noite o veículo passa por reabastecimento convencional e alcança novamente 100% de carga. 

O presidente da Volvo Bus conta que foi uma surpresa perceber o tamanho da melhoria causada pela redução no nível de ruído. Internamente, há internet wifi e tomadas para recarregar celulares e outros gadgets. “Nas pesquisas constatamos aprovação alta dos usuários”, conta, confirmando o que não poderia ser diferente. 

O operador que optar por investir em um ônibus elétrico da montadora terá de desembolsar o dobro do valor que pagaria em um modelo a diesel. O custo operacional, no entanto, é significativamente menor, garante Agnevall, que prefere não especificar o tamanho da redução nos gastos com o uso do veículo, que pode variar de acordo com a aplicação. “A prefeitura de Gotemburgo oferece também incentivos para a compra de modelos zero emissão.” 

Quanto à bateria de íons de lítio, a Volvo trabalha com um sistema de aluguel em que o cliente paga valor fixo por quilômetro rodado com os custos de recarga já inclusos. A economia nos gastos com combustível varia de 30% para o ônibus diesel a 75% no caso do elétrico. A vida útil da bateria é estimada por Agnevall em quatro a sete anos. Depois deste prazo a montadora se responsabiliza por destinar o componente para reutilização em aplicação menos severa ou à reciclagem. 

PROJETO COLABORATIVO

A linha 55 é um projeto piloto que faz parte do programa ElectriCity em Gotemburgo. São 14 parceiros envolvidos na iniciativa, incluindo a prefeitura da cidade, empresas da área de energia elétrica, universidades e a montadora, claro. A ideia é desenvolver e testar opções sustentáveis de transporte. “Não queremos entregar o ônibus, mas uma solução viável”, conta o executivo. 

Com isso em mente, toda a tecnologia de recarga usada na linha foi criada em plataforma aberta, sem segredo industrial. Assim, outras fabricantes também podem produzir veículos para rodar na mesma estrutura. A inovação já atraiu mais de 6 mil clientes da montadora à Gotemburgo para conferir como funciona o sistema. O potencial é global, garante o executivo. “O mercado brasileiro, por exemplo, já testa nossos híbridos e com certeza vai precisar de modelos elétricos no futuro, quando superar a crise. É um caminho sem volta.”

Fonte: GIOVANNA RIATO, AB | De Gotemburgo, Suécia http://www.automotivebusiness.com.br/noticia/24593/volvo-bus-quer-transporte-coletivo-eletrificado?utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Newsletter+Automotive+Business+-+9%2F9%2F2016

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