terça-feira, 12 de novembro de 2013

Flecha Azul recebe tratamento de "celebridade" em sua última viagem

Após 24 mil kms rodados, já contando com os 300 utilizados nos testes decorrentes de sua restauração, o último Flecha Azul encerrou no último dia 23 de outubro, as 65 viagens em comemoração ao 65º aniversário da Viação Cometa. A derradeira viagem, de São Paulo a Campinas e vice-versa, saindo do Terminal Rodoviário Tietê, marcada para as 10h, sofreu atraso de uma hora. Mas isso já era esperado, pois a "estrela" das rodovias brasileiras entre os anos 80 e início dos anos 2000, foi recepcionada pela banda River Boat"s Jazz, reunindo ainda os aficcionados por ônibus querendo, mais uma vez, fotografar o já lendário Flecha Azul.
Mas os mais apaixonados podem ficar tranquilos, pois além de ficar exposto na Viver, Ver e Rever (VVR) nos próximos dias 9 e 10 de novembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o 7455 deverá participar de mais algumas promoções até o fim do ano. Palavras do presidente da empresa, Carlos Otávio Antunes, que compareceu à rodoviária.
Visivelmente emocionado, Carlos Otávio falou da satisfação pela restauração do último modelo produzido pela Companhia de Manufatura Auxiliar (CMA), cujo processo acompanhou pessoalmente, e disse que não imaginava a quantidade de pessoas que gostam de ônibus e especialmente da Viação Cometa e do Flecha Azul.
Ele ainda avaliou que o crescimento por viagens aéreas não afetou o setor rodoviário, cujo "padrão hoje é dos melhores, em termos de confiabilidade e segurança".
Os dois motoristas escolhidos para as 65 viagens, Ricieri Antunes e Marcos Adriano Paixão Ernesto, também estavam felizes com o sucesso da promoção. O "comandante" Ricieri, como é tratado pelos passageiros, falou sentir a "emoção do dever cumprido, e ao mesmo tempo saudades porque está terminando". Para seu parceiro Ernesto, "foi tudo muito emocionante, pois aprendemos muito com os busólogos e passageiros em geral, crescemos juntos nessa experiência".
A viagem, acompanhada pelo Cruzeiro do Sul, contemplou 15 ganhadores do concurso de histórias que marcaram suas vidas em torno dos ônibus da Viação Cometa, e em especial do Flecha Azul.
Os dois últimos ganhadores da miniatura do festejado ônibus, sorteada por trecho de cada viagem, foram o engenheiro Francisco Carlos de Araújo, 58 anos, e o caminhoneiro Leandro Gomes, de 31 anos. Em Campinas, foi oferecido um almoço no restaurante La Pasta Gialla, e no retorno para a Capital, novamente o Flecha Azul foi recepcionado pela banda.

Histórias de vida

Uma das histórias escolhidas foi a do motorista aposentado José Ramalho Pimentel, 78 anos, que trabalhou na Cometa entre 1965 e 1978, saindo apenas para dirigir o próprio caminhão. Narrada pela sua filha Lídia Maria Pimentel Scaglion, 45, a história relembra o dia 31 de julho de 65, quando ao retornar do Rio de Janeiro para São Paulo, próximo ao município de Jacareí, José não teve outra alternativa se não a de levar o ônibus para a ribanceira, a fim de evitar uma fatídica colisão com outro ônibus (não recorda a empresa), que invadiu a pista contrária. Dos ocupantes do ônibus da Cometa, somente ele se feriu gravemente ao sofrer um corte no pescoço perto da artéria, mas só aceitou ser socorrido após ver que todos passageiros, que tiveram apenas lesõe leves, haviam sido retirados. Ele recebeu uma carta de honra ao mérito pelo seu feito.
Ainda durante a viagem, José, matriculado na Cometa com o número 14.957, negou que o teste para motorista incluía um copo de água sobre o painel: "isso era feito, mas só de brincadeira". Mas ele se gaba ao dizer ter sido admitido mesmo com apenas 1,68 metro de altura, quando a exigência mínima era de 1,80 metro. Ele também contou que usuários de óculos não eram aprovados e que o famoso "rayban da Cometa", ainda em moda, foi adotado por causa do sol.
Outro relato de amor à empresa e ao Flecha Azul é do motorista de ônibus Leonardo Ramos Adriano, 28, mestre em Biologia e que há dois anos aproximadamente deixou a carreira acadêmica para tentar alcançar seu objetivo, que é entrar para a Cometa. Motorista de uma empresa de São Carlos, sua cidade natal, Leonardo tatuou há quatro anos em seu braço esquerdo a típica rodomoça, o Flecha Azul e a estrela, existente em sua traseira".
Já o engenheiro Francisco Carlos de Araújo, 58, recordou seu interesse pelos ônibus da Cometa desde sua infância, o que ficou mais evidente já na fase adulta, ao viajar a serviço para Sorocaba. Seu filho, que segue os passos profissionais do pai bem como o gosto pelos ônibus, foi quem o incentivou a participar da promoção.
O estudante Thiago Augusto de Moura Vilela, de apenas 10 anos, protagonizou uma cena que seu pai, o vendedor Roberval Rosa Vilela, 41, jamais esquecerá: "ele tinha ainda 3 anos de idade, e ao buscar sua mãe, minha esposa, na rodoviária de Mogi-Guaçu, ele pediu para descer do meu colo, mas para minha surpresa, em vez de ir ao encontro da mãe, ele desviou e foi abraçar o Flecha Azul, abrindo seus bracinhos no para-choque".





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